… Sábado de chuva (Gosto de sentir isto)

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… Hoje começou a chover torrencialmente. Não sei porquê, parecia-me Fevereiro. Uma daquelas tardes de Fevereiro onde começa a ser noite às três da tarde. Estava no quarto. A chuva, que primeiro começou com pingos grossos e lentos, começou a cair rápida e apressada. Gosto de a ver e ouvir. Fui para a janela senti-la. Misturava-se o som da chuva com o barulho dos carros que se ultrapassaram. Gosto de chuva, esta veio em boa altura, porque como não gosto de rotina, ver chover assim num sábado de Outubro de manhã como se fosse Fevereiro a meio da tarde sabe bem. O outro dia arrefeceu, eu já tenho algumas saudades do frio, de um casaco, de uma manta nos pés, das rotinas dos dias de Inverno. A chuva fez-me, de repente, pensar que a natureza manda em tudo, mas nunca manda nada por acaso. Sabe o que faz. Minutos depois a chuva passou. Ficou aquele cheiro a terra molhada, que eu acho um dos melhores cheiros do mundo. Há cheiros que nunca se esquecem, chuvas que por muito que nos molhem a pele não nos lavam, nem nos tiram de cima o que cá temos, está-nos cravado na carne. Apenas distraem o ardor da carne viva, como um sopro num arranhão. O cheiro a terra molhada faz-me lembrar tudo de bom. Outros tempos, o Alentejo, o renascer, o renovar de qualquer coisa… quem já meteu as mãos na terra percebe o que quero dizer. Poucas coisas existem mais bonitas que ver trabalhar a terra. É de lá que tudo vem. É para lá que tudo vai. Gosto de chuva porque gosto do seu barulho repetido na terra, na função do renascer e trago isso para mim. Parece que depois da chuva tudo passa… fica outra coisa qualquer que já não é o que estava antes da chuva.

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