…Ir será sempre um verbo bonito de usar se a ele se juntar o descobrir. Aprendo sempre em todas as viagens que faço. Aprendo que há sempre muitas maneiras de ver a mesma coisa e que há muitas coisas para ver. O nosso mundo é pequeno, nós somos pequeníssimos dentro dele por isso, a cada lugar que vou penso sempre no pequeno que somos quando achamos que somos os maiores. Atravessamos um País e percebemos a realidade diferente, valorizamos o que temos e entendemos, se estivermos abertos a isso, que disparates e arrogância desmedida não nos levam a lado nenhum. A única coisa que nos leva a qualquer lugar é a capacidade de querer descobrir e aprender. Sou dos que gosta de viajar acompanhado, mas também sei fazê-lo sozinho. São formas diferentes de viajar e de descobrir. Muitas vezes me perguntam se para o fazer sozinho de mochila às costas é preciso coragem. Eu não acho que seja coragem, talvez necessidade porque nela aprendemos sempre que ou somos nós ou não é ninguém. E é com este espírito que alimento, porque tem que ser alimentado, porque não me é inato, que mais uma vez lá fui eu. Lá fui descobrir lugares que conhecia da net, de ouvir falar, dos filmes, da história que se conta…. Vou com a falta de vergonha de não falar a língua, de não entender metade do que me dizem mas vou. Uma das coisas que mais gosto de fazer quando vou a qualquer lugar é andar, apreciar os lugares a pé e estar sentado horas numa esplanada. Perceber as rotinas de quem ali faz vida e entender a vida, que é só uma no meio de tantas. Gosto de estar com o meu bloco de notas e escrever o que vejo. Imagino a vida das pessoas, transformo-as em personagens e ali fico a admirar… não sou dos que vai aos lugares com a obrigação de fazer check nos pontos turísticos que estão na berra no Instagram. Vou a lugares onde à partida há menos gente, ainda que às vezes tenham muita. Gosto do sabor de perceber que ninguém sabe quem eu sou, não me olha, não me avalia, não espera nada de mim… com isto não digo que não gosto do que vivo em Portugal, com isto digo apenas que estes ‘balões de oxigénio’ me fazem falta. Viajar sozinho é solitário? Pode ser. Na altura das refeições, na conversa, nas coisas muito lindas que não se podem partilhar imediatamente com alguém que as veja como nós e as entenda de maneira diferente. Na altura de querer dividir. Talvez aí seja solitário. Mas é preciso passar a linha do medo, a barreira da língua e ir… ir é um verbo bonito que faz sentido se soubermos que vamos voltar. É sempre bom voltar. Perceber que olhos nos querem ver, que braços nos recebem. Como escorpião que sou, vivo nestes antípodas entre o solitário e o desejo imenso de estar rodeado. Não se pode nunca agradar a todos, eu sinto que vezes sem conta nem a mim agrado. Agora o que já resolvi há muito tempo e que não faço, é deixar de me agradar a mim com medo de não agradar os outros.
SUBSCREVER E SEGUIR