… Não acho graça a que se assinale o dia do namorados. Prefiro que se assinale o amor, que deve ter dias seguidos e não só um no calendário. Para mim, o amor mais não é do que ‘sentir-se em casa’ sem cerimónia. É perceber que o silêncio não atrapalha, que a descoberta de uma rua feita a quatro pés é estimulante, que conhecer um lugar, um País, descobrir uma aventura nos enche as medidas. Amar é estar ao lado, medir a febre, humedecer os lábios, amparar, sonhar juntos, realizar sonhos, levar a colher à boca, aconchegar a roupa da cama, ter ciúmes, gritar, brigar, dizer coisas da boca para fora com a mesma boca que engole de repente tudo o que disse para sorver um beijo e sentir a saliva quente a saber ao outro. Amar é perceber o que precisa o outro. O que sonha o outro. O que quer o outro. Amar é entender um estado de alma. É dar a entender um estado de alma. É fazer uma mala juntos e brigar porque não cabe tudo lá dentro. É desfazer a mala e voltar a fazê-la e as coisas continuam a não caber, mas o amor é maior que a mala e tudo o que ela tem dentro. Voltamos a brigar, a desfazer e fazer a mala todas as vezes que forem precisas. O amor é isto. Na prática não tem regras. O amor tem que valer a pena. Se não tiver expectativas dentro dele não é amor, se não se perspectivar não é amor, se não fizer o coração bater mais rápido quando o outro começa a subir as escadas não é amor, se não nos suarem as mãos quando as dele nos tocam o pescoço não é amor, se não te trouxer a serenidade enquanto descansas a cabeça no seu colo não é amor, se não te sentes no céu quando um corpo invade o outro não é amor … é outra coisa qualquer. O amor é descalçar as nossas botas, se preciso for, para calçar as do outro, ajudá-lo a fazer o caminho e perceber que, de tão delicado que é, o amor está à semelhança de um pássaro pousado na nossa mão, como diz o poeta. Um pequeno gesto pode fazê-lo voar a qualquer momento. Também é amor deixar o amor voar.
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