…Sobre o nó na garganta (ou simplesmente saudade)

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… Quando tirei esta fotografia, estávamos em Julho de 2011. A Leonor tinha acabado de fazer sete anos e foi a primeira vez que passou férias sozinha comigo. E eu com ela. Estava já crescida o suficiente para se afastar das rotinas que tinha mantido sempre, mesmo após a minha separação. Com a mãe já tinha saído muito de férias; comigo sozinho foi a primeira vez. Eu vivi sempre mais afastado porque desde que nasceu passo muito tempo fora. Lembro-me como se fosse hoje. Escolhi a costa alentejana por me ser familiar, por estar perto e porque ainda era calminho nesta altura. Foi divertido. O primeiro dia, o segundo, o terceiro… antes de irmos, e durante semanas todos os dias, ela me falava exaustivamente do que iríamos fazer, do que queria fazer, do divertido que iria ser. E foi. Combinámos estar fora dez dias… Adorou a ideia. Adorou a casa onde ficámos, a piscina, os lugares, as praias calmas e frias, o clima, os croissants carregados de chocolate, a bola na praia, os passeios ao fim da tarde, o carrossel no meio da vila… mas ao terceiro dia comecei a perceber que o ânimo dela estava diferente. No dia seguinte estava mais desanimada. Estava menos tempo na piscina, já não queria o croissant com chocolate, não se importava de não ir  de tarde à praia e até a consola nova, que tinha recebido esse ano pelo aniversário e a acompanhava para todo o lado como máquina de filmar, ficava ali perdida em cima do sofá…. Eu tentava tudo, mas ela estava desanimada. Ou pelo menos não tão animada como eu a imaginaria ou ela pretendia… A Leonor sempre foi muito crescida e sempre falámos de tudo. No quinto dia ao pequeno-almoço na pastelaria do costume perguntei-lhe o que se passava, se não estava a gostar. E ela, com o ar inocente de uma menina de sete anos diz-me : ‘Não tenho nada, estou a gostar, mas dói-me um pouco a garganta. Mas não é dor de doente..!’ Fiquei em alerta porque imaginei que poderia estar a ficar doente. Não tinha febre, não tinha sinais que se manifestassem nesse sentido. Não fomos à praia, preferiu ficar em casa na piscina… E de repente diz-me ‘Acho que tenho saudades da mãe!‘. Ups! Tinha sido a primeira vez que a Leonor estava longe da mãe tantos dias. Os meus sinais de alerta funcionaram todos ao mesmo tempo, um milhão de perguntas na cabeça. O que fazer!? Falei com a mãe que tentou acalmar e perceber como a sentia. Ficou combinado que se ela continuasse assim voltava para casa mais cedo… E assim foi. Nessa mesma tarde perguntei se queria voltar: ‘Quero!’ Percebi que a tal ‘dor de garganta’ que a minha filha tinha era uma espécie de ‘nó’ que se manifestou porque era a maneira que ela tinha de dizer que estava com saudades da mãe. O corpo deu um sinal. Voltámos imediatamente. Vi nos seus olhos a alegria outra vez quando preparou as malas e entrou no carro. Lembro-me de fazer o caminho e de a ver adormecer serena. Reclamou que lhe doía a cabeça, parei numa estação de serviço à procura de gelo para lhe ir humedecendo a testa. Mais tarde percebi com ajuda da pediatra que foi uma reacção. A Leonor foi desenraizada de repente da rotina da mãe, que apesar de falar com ela várias vezes ao dia não lhe era suficiente naquela altura… Quando despertou da viagem, voltou a mostrar o sorriso desdentado que tinha aos sete anos de idade. À sua frente tinha a mãe.

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