… Hoje dei de caras com esta fotografia. Era a turma de ballet da Leonor, a interpretar o Quebra-Nozes. Quando era pequena, e durante algum tempo, a Leonor queria ser bailarina, depois médica, professora, veterinária… Agora está indecisa entre ser escritora ou nutricionista. Tem pela frente todo o tempo do mundo para decidir. Acho que é assim que deve ser. Um ano de cada vez, com a calma que as crianças precisam ter para decidir o seu futuro, assente em consciência e responsabilidade. Não concordo com as arrelias de terem de tomar uma decisão importante, como a área a seguir, no 9º ano, como se não tivessem depois a oportunidade de voltar atrás na escolha. Se nós, depois dos quarenta, ainda mudamos de ideias e de ideais, porque é que uma criança de 14 terá de se ver frente a frente com uma decisão tão radical tão cedo? Eu quero que ela cresça e, à medida que for crescendo e vivendo no mundo, que decida. Nunca lhe disse que teria de ter um curso superior obrigatoriamente, nunca lhe condicionei as escolhas, sempre lhe disse que devia ir pelo seu coração, pela sua vontade. Que se quisesse poderia parar de estudar depois de terminar o secundário e aproveitar para viajar, para conhecer outras culturas, viver outras realidades, ter tempo para ver o que quer fazer sem a pressão de ter de entrar imediatamente para uma faculdade. Não sei o que quererá fazer nessa altura, mas preciso que se sinta livre para decidir e não pressionada pela sociedade ou pelas exigências dos pais. A Leonor tem a responsabilidade inerente a uma adolescente da idade dela. Hoje, falou de ser escritora e nutricionista, como antes amava ballet. Amanhã pode continuar a querer ter uma clínica onde exerce nutrição e ser uma escritora de sucesso. Uma coisa não impede a outra. Nada impede coisa nenhuma. O mundo é infinito de oportunidades e, enquanto os filhos tiverem os pais e sonhos para o futuro, cabe-nos a nós dar-lhes asas. Eu penso assim. E hoje, quando olhei para esta fotografia, lembrei-me de estar sentado na plateia com a família toda, convencidos que a Leonor dava o seu melhor com as suas amiguinhas. Na época, todas queriam ser bailarinas, não sei se alguma delas será, mas o que me importa é que naquele momento, naqueles anos, viveram esse sonho e entregaram-se a ele. até que, depois – cada uma à sua maneira – decidiram por outro caminho. É assim que vejo o futuro. São eles que devem decidir. Não somos nós. Nós teremos de apoiar, alertar e ajudar a seguir em frente. Não temos de condicionar. Não mesmo. Sempre achei que um pai teria de aprender a dançar conforme a música que se apresenta na realidade do filho. É um ballet conjunto. Só assim me faz sentido.
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