… Fernando Pimenta trouxe o bronze para Portugal, mas assume claramente que queria ter trazido o ouro, porque foi para isso que trabalhou. Para nós, ele trouxe ouro, porque ouvi-lo falar é escutar a resiliência e a verdade em forma de pessoa numa mistura bonita e quase comovente em tudo aquilo que diz, porque o que diz soa a verdade absoluta. É verdade quando confessou publicamente no ‘Dois às dez’ que a família fica muito prejudicada com a sua entrega, é de louvar quando reconheceu que a mulher Joana tem sido pai e mãe da pequena Margarida que é a ‘menina dos seus olhos’ e é verdade quando reclama que Portugal olhe para os atletas olímpicos o ano todo e não apenas em datas especiais e lhes dê atenção sempre. Se marquem entrevistas se procure saber sobre eles, que se mostre interesse e acima de tudo que se apoie… não se queixa da falta de apoio no seu caso pessoal, mas fala num colectivo onde reconhece que estamos longe, muito longe de ter as estruturas de equipa que têm os seus pares internacionais, na sua e em outra modalidades olímpicas. Fernando Pimenta assume com toda a verdade que não temos uma política de alta competição como existe lá fora e por isso tudo o que conquistam vale mais que o dobro e já conquistaram muito e deixam um Portugal orgulhoso, mas era bom que fosse orgulhoso o ano todo e durante todo o ano. Diz que uma ajuda pequena de uma grande empresa pode fazer a diferença absoluta na carreira de um atleta. Dá exemplos, explica as razões e argumenta. Este é um dos nossos atletas que nos Olímpicos trouxeram medalhas a eles juntam-se outros nacionais mas para todos é preciso olhar com olhos de gente sempre e não quando nos convém, porque fica a sensação estranha de que parece existirem apenas a cada evento desta natureza. A humildade com que fala das suas conquistas contrasta com a certeza de que sabia que seriam dele. Entrou no estúdio alegre, bem disposto ,rodeado da sua família, aquela que criou para si e que o ampara nas horas menos boas, ‘e são muitas’ e com ele festeja as alegrias, mesmo com atraso porque acontecem no outro lado do mundo. Com ele a sua companheira de muito tempo. Joana que conheceu na canoagem e que lhe reconhece não só o valor como a beleza interior que descobriu ‘ainda o Fernando na tinha músculos’ uns músculos que custam a conseguir em treinos e sacrifícios diários para estar cada vez mais e melhor preparado para o próximo desafio, porque ele não tem limites e sabe exactamente onde quer chegar. Quer ser campeão com ouro pendurado ao peito e orgulhar um País de que gosta mas a quem apela mais atenção. Quer ver reconhecida uma modalidade sempre e não em tempos de festa, quer ter condições para ele e para todos para que o desempenho seja melhor e justo quando em alta competição há colegas em vantagens por terem essas condições. Quer ter mais tempo para os seus e ver a sua Margarida crescer orgulhosa do pai. A Margarida que se tornou num espécie de memória fotográfica quando no momento da vitória Pimenta levantou a chupeta da filha numa homenagem bonita que rodou o mundo e fica para sempre, porque um dia a Margarida vai perceber que o pai ‘desarrumado e desorganizado em casa‘, como diz a mãe, tinha a cabeça no lugar, os objectivos traçados e remava para que o sonho dele chegasse mais longe. Tão longe quando possível fosse sonhar… e depois se sentasse num sofá descontraidamente e falasse do feito com a naturalidade que só os grandes conseguem. Obrigado Fernando Pimenta!
SUBSCREVER E SEGUIR