… E se de repente passarem vinte anos (É que o tempo não volta!)

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… Não gosto destas aplicações que os telefones têm. Não acho graça e acho menos graça que toda a gente faça o mesmo ao mesmo tempo. A Liliana Campos, que deve dormir pouco, enviou-me esta imagem minha. Seriam umas quatro ou cinco da manhã. Ficou ali nos registos das mensagens e este fim de semana debrucei-me sobre ela. Não exactamente sobre a fotografia, nem sobre a imagem, mas sobre aquilo que ela pode reflectir. Não sei como chegarei a esta idade, não faço ideia como estarei daqui a vinte anos, mas tenho um medo horroroso de olhar para trás, e imaginar – aos 65 – que aos 45 não fiz coisas que me apetecia muito fazer. Que as escolhas feitas até estes 65 me deixaram dúvidas e as ‘não escolhas’, por conta dos medos, me deixaram marcas que vão para além das que estão no rosto. Se calhar está na altura de olhar em frente, sacudir uma série de coisas de cima, perder medos, ganhar coragem, sair, gritar e viver os próximos vinte mais à minha maneira. Ligar mais aos amigos, ‘ganhar’ mais tempo com eles, jantar fora mais vezes, fazer mais jantares em casa, dançar mais, viajar mais, ir mais vezes a qualquer lugar sem medo de achar que ‘vou perder tempo’, dizer ‘não’ mais vezes, beber mais vinho, comer mais porcaria, ver todos os filmes que queria ver, ouvir os meus discos antigos, ouvir k7 que gravei, ler os diários que escrevi, escrever mais, olhar para o fim de semana como fins de semana prolongados, voltar a lugares que fazem a minha história e descobrir lugares que farão uma história nova… Enfim, não deixar passar o tempo acomodado a esta coisa estúpida que é a responsabilidade e que quando levada muito a sério nos rouba tempo para o que de facto teríamos que ter tempo… O importante é perceber, nestes 45 que tenho agora, se a minha maneira é a acertada para mim, a melhor, a que me faz mais feliz ou se vou a tempo de mudar. Senão tudo, algumas coisas. Não saberia responder a isto hoje, como não consegui reponder no fim de semana e não sei se conseguirei responder amanhã. Sei que aos 45 tenho muitos medos que não tinha aos 30. Tenho inseguranças que não tinha, tenho receios que não tinha e tenho dúvidas que não tinha. Mas tenho também uma certeza absoluta. Sei exactamente o que não quero para mim e a responsabilidade de tratar do assunto. Sei exactamente o que me faz mal, o que me inquieta e até prejudica. Tenho, aos 45 anos, o diagnóstico feito. Já não é um mau começo.

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