… O outro dia coloquei nas redes um post sobre o Alentejo, como faço muitas vezes. Um pequeno desabafo sobre uma terra que me diz muito. Escrevi ‘ O Alentejo fica-nos sempre com um pedaço quando vamos e voltamos. Fica uma ferida! Quem nunca mais voltou, conta que a ferida não sara. Não cicatriza. Sentem saudades dos pés quentes na terra. Da roupa colada ao corpo transpirado. Sentem falta do silêncio e até das mulheres que vestem preto. Sentem falta do cantar das cigarras que só se calam no fim do quente. Há quem diga que de tanto ir e vir, de tantos bocados ficarem, de tanta carne nos arrancarem… um dia ficamos lá. Reféns. Reféns da terra, para que deixe de ser seca e à espera que as mulheres voltem a vestir-se de cor. Se há lugar para vestir cor, será no Alentejo!’ recebi imensas mensagens de seguidores que queriam saber mais desta ligação minha ao Alentejo e como a mantenho. Pessoas que se emocionam com o traço que faço desta terra onde me sinto em casa. É simples. A ligação é simples. É uma ligação de coração. De verdade. É uma ligação de raiz, que vem dos tempos em que a minha mãe era menina e se passeava na Vila com as amigas. No tempo em que os montes ali à volta seriam uma espécie de muralha para que Vila Boim fosse uma das mais bonitas vilas do meu Alentejo. Seguramente, no Alentejo existem outras mais bonitas, mas foi esta que me viu crescer é esta que me conhece o arrastar dos pés e o dançar da pressa. Eu sou do Alentejo a sério, eu não sou porque está na moda, porque é bonito, ou porque meter uma fotografia no instagram com uma casa caiada de branco com rodapé azul é altamente rentável. Eu sou daqui. Eu vejo-me aqui. Eu voto aqui! Ser do Alentejo é ajudá-lo a crescer na sua economia, a não o permitir desertificar-se, é estar atento ao que se passa, é perceber as suas gentes, escutar a sua rádio, ler o jornal da terra, fazer compras da semana nas lojas… acredito que isto acontece comigo no Alentejo e com tantas outras pessoas em tantas outras zonas do País. Talvez a única diferença, a que eu acho, daquilo que me perguntam, é que eu não me imagino num outro lugar. O que gostava de passar a quem me lê e segue é que eu sou muito a raiz de onde venho. Não temos todos que ser assim. Conheço muita gente que não é, por muitos motivos e não faz delas melhores ou piores pessoas. Apenas diferentes. Quando escrevo sobre isto, é com o objectivo de mostrar a todos que por muitas voltas que a vida dê, o importante é termos um lugar onde, no meio de tanta confusão, encontramos o nosso chão. Digamos que seria o fio de prumo da nossa realidade. Eu sinto orgulho de nunca ter tirado os pés deste fio de prumo que me vai orientado. Mas o meu objectivo é também o de passar outra mensagem importante, não é porque se nasce longe, se cresce longe, se vive longe que não se chega onde se quer. Nada disso. A distância não pode ser a culpada da falta de vontade, do comodismo. Há boas oportunidades no Alentejo como as há em outros lugares. Sabemos que os grandes centros urbanos reúnem mais. Claro que sim, mas também sei – por experiência própria – que o sossego e a paz que nos entra alma dentro no lugar onde temos as raízes, não se consegue noutros lugares. Por isso o truque é fazer esta ginástica gigante de manter um pé num lado e outro noutro. Nem todos conseguem. Eu sei que não. Eu consigo. E sou grato por isso!
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