… ‘O nosso é navegar’ (à deriva, amor, à deriva!)

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… Se estivesses, deliravas com a temperatura da água e a lucidez dela. Ficarias encantado com o canto das cigarras durante toda a noite e com a vista do prado e da terra assim que abrias os olhos. Se lá estivesses, irias rir com a maneira de falar dos locais e descobrir cantos desertos que achavas que podias levar contigo, fosses para onde fosses, dentro de uma mala rija e espalhafatosa. Irias saborear um gelado, e outro, e mais um, em todas as noites que conheceríamos a calçada antes e depois de cada restaurante novo. Pedirias, ao jantar, um prato melhor que o meu, que iria comer com os olhos. Se estivesses, ias perceber que os mares se mistura um no outro e que os olhos o perdem de vista sem nunca deixar de o ver entre vários tons de verde e azul, texturas de areia e de pedra. A planta dos teus pés ficaria protegida pelas solas de borracha que enfrentariam as rochas e amparariam o corpo dourado pelo sol como nunca tinha estado antes. Se estivesses, sentirias o recordar de emoções com recantos a lembrar memórias e descobririas novos para baralhar e comparar. Rasgarias a estrada de terra batida, rasgarias o alcatrão, exagerarias nas expressões e tentarias desconstruir tudo quando eu acusasse cansaço. Se estivesses, pensaria que o mar tinha trazido golfinhos à costa…  Quando olhei lá ao fundo pensei ver um. Pensei, não! Parece que tenho em mim a certeza que sim, que vi um. Naquele momento, olhei muito para o azul e ao longe vi, senti. Isso é o importante. Depois, num leve e raro sopro de vento, pareceu-me ouvir-te mandar-me proteger do sol. Levantei-me. Não estavas. Não estiveste. Estarás na próxima. Está prometido, porque este mar é teu mesmo que ‘o nosso seja navegar sem nos encontramos. À deriva, amor, à deriva!’ como diz o poeta.

 

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