… A história do Senhor Fernando que emocionou o País inteiro esta semana é a história daquilo que a televisão é capaz de fazer, quando é feita de verdade e com verdade para as pessoas. O Senhor Fernando tem dentro dele o luto porque perdeu o amor da sua vida, mas não perdeu a vontade de ver o dia nascer melhor manhã, ou depois de manhã, ou depois de depois de manhã. Não perdeu a vontade, e isso é que importa! Homem aplicado na sua ‘escrita’ ligou para o passatempo ‘Casa Feliz’ e quis o destino que fosse contemplado. Quando atendeu, passava pouco das dez da manhã e reconhece a Cristina que ao telefone lhe diz que ganhou 2500 euros! Emociona-se, agradece e no meio da conversa – que estava animada -, diz que o dinheiro vai servir para pagar o funeral da esposa que estava por pagar. O estúdio gela. A Cristina deve ter gelado por dentro. A equipa técnica deve ter ficado gelada num todo. Um programa de televisão feito de verdade é um bloco por inteiro. O bloco inteiro deve ter gelado. Eu gelei. Numa fracção de segundos, Cristina perde o brilho que tinha nos olhos, baixa as pálpebras, o tom de voz, encosta-se à ombreira da parede do seu closet, dá o ombro e estende os braços ao senhor Fernando… Os olhos da Cristina não voltaram a brilhar de contentes nesse dia, eu conheço-os. No dia seguinte, recebeu o Senhor Fernando, que aceitou sair de casa pela primeira vez depois da morte da sua metade. Ele, num rosário de histórias contadas e alinhadas emocionou todos nos braços da apresentadora, que deixou de o ser, para ser apenas a pessoa que deu ao Senhor Fernando a esperança de um amanhecer melhor naquele dia. A emoção na televisão é bonita quando para casa passa verdade. No final, Cristina voltava a brilhar com força por perceber que estava ‘encaminhada’ da melhor maneira a vida do senhor Fernando. Foi o pagamento da dívida que tinha, foi o prémio dos 2500 euros, mas foi mais que isso. Foi mostrar a todos que quando vale a pena não há nada que se meta pela frente. Quando eu digo – e digo muitas vezes – que se faz a diferença na vida das pessoas é por isto. É por isto que me sinto orgulhoso por fazer televisão num horário que para mim será sempre o nobre. Porque é neste horário que estão a pessoas que precisam muito. Que precisam mais. Que muitas vezes não têm mais nada a não ser a televisão. A voz de quem está dentro da televisão ou o ombro, como aconteceu neste caso. Ver o Senhor Fernando ali sentado à hora de almoço, no dia a seguir a que o destino quisesse fazê-lo mais feliz, depois de ter perdido a sua felicidade para a eternidade, é fazer-me pensar que amanhã o amanhecer pode ser melhor, se não for manhã será depois, ou depois de depois de amanhã. Cada sorriso que faço soltar dentro da casa da Cristina é um raio de vida que mando para quem acredita que ali, se honra a televisão. A televisão é feita por pessoas, para pessoas e com pessoas. Frase sábia do realizador, que aos comandos da regie deve ter gelado como todos gelaram. Não esqueçamos isto. Para lá de audiências, de companheiros, de rivalidades de canais, da luta de egos, de títulos de revistas, estão a pessoas. São elas que importam. São elas a respiração profunda que está entre o genérico de abertura e a ficha técnica de cada programa. Digam o que disserem, mas mais uma vez ‘O programa da Cristina’ mostrou como se faz. Obrigado! Eu como profissional gosto de aprender e eu como espectador gosto de ver.
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