… Quando a noite convida para que se saia de casa, e quando se decide sair, então que se faça história nestas coisas dos ‘trapos’ com a importância que elas devem ter. A GQ voltou a organizar a sua atribuição de prémios e uma data de gente conhecida – e outra mais ou menos – foi direitinha ao São Jorge numa noite de chuva e frio. O importante era ir e arrasar. Foram quase todas, arrasaram poucas (mas algumas – este ano a Strada também marcou pontos). E arrasaram poucas porque é muito difícil surpreender quando se faz igual e se pensa marcar pela diferença, não correndo riscos, ou apenas achando que levantando o queixo e revirando os olhos para a câmara fotográfica já se fazem notar. Engano! O tempo mudou. As coisas mudaram, são muitas pessoas à procura do mesmo e, numa noite de prémios destas, o que conta é a irreverência dentro da linha do que se pode fazer para não se passar para a linha (perigosa) do lado de lá, que é aquilo que não pode ser feito nunca. Para se conseguir isso, o que é preciso é ter a coragem (e a possibilidade) de usar uma criação que faça virar cabeças pelos bons motivos, e isso conseguiram a Cristina Ferreira e a Carolina Patrocínio. Óbvio que em versões diferentes de uma mesma forma de pensar espectáculo! Não há que ter medo, não há que pensar pequeno. Já que se vai, que se vá com tudo o que se pode. A criação de Cristina não vai reunir nunca consenso, nada a que ela não esteja acostumada, mas aos meus olhos marcou, não só pela diferença no arrojo da cor branca numa noite que pedia escuro, mas porque o vestido não é um ‘vestido’ qualquer. Era uma espécie de obra da arte só possível de usar a quem tem a confiança para o fazer. Gostei de tudo. Da cor, do drama, do decote e das tão polémicas costas que podiam simbolizar o mundo que Cristina carrega e o muito que se diz dela quando vai passando, porque como pode ser o peso do que se diz, pode também ser o escudo do que se pensa. Mas era ‘apenas’ arte feita vestido, espectáculo que fez virar muitas cabeças. Outra vez! Noutra linha, Carolina Patrocínio, que se Cristina não tivesse ido teria ficado sozinha no topo da lista, porque usou o vestido mais ousado da festa. Mas atenção! Uma ousadia elegante, que a transformou na mais fotografada e sensual mulher daquela festa aos olhos das objectivas dos fotógrafos, mesmo que por lá andasse a Bruna Marquezine. Carolina estava impecavelmente vestida numa criação que rasgou, literalmente, com tudo o que até agora tinha usado. O cabelo impecável, a atitude adequada. Nada ali falhou. Para mim, quando falamos em galas e cerimónias com contexto especial como é esta da GQ, lembro-me disto, como me lembro do que usou a Ana Sofia Martins o ano passado. Nestas iniciativas, é disto que precisamos em Portugal para não estarmos constantemente encostados ao que se faz lá fora, por muito que se vá lá fora buscar ideias. Se não fosse por mais nada, já valeria a pena a Cristina e a Carolina terem saído de casa numa noite de chuva. Quando quiserem perceber o que é um vestido elegante, investiguem. Quando quiserem perceber o que é um vestido de festa, investiguem. Quando quiserem perceber o que é um bonito vestido, investiguem. Mas quando quiserem ter a noção do que é um vestido que reúne tudo isto, lembrem-se destas duas. Conseguiram reunir tudo isto enfiando o corpo em obras que foram tão protagonistas como os prémios entregues. Agora, chamem-lhe graxa, eu chamo ponto de vista (belíssimo ponto de vista, claro!)
LEIAM TAMBÉM UMA DESTAS PUBLICAÇÕES:
SUBSCREVER E SEGUIR