… Olhem o que encontrei (A expectativa de alguém)

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… De vez em quando tropeçamos em coisas que nos fazem pensar. Tenho esta frase tatuada no corpo, acho que já sabem, e hoje dei de caras com ela tatuada numa parede na rua. Coincidência. Não resisti! Fotografei-me junto a ela e senti uma espécie de energia boa, porque é inevitável pensar-se em quem terá escrito, quando terá escrito, porque terá escrito, o que sentia quando escreveu, para quem terá escrito… ‘Sem expectativas’, escrito numa parede algures. Sem equilibro gráfico, nem noção de desenho. Só emoção desalinhada. Quem escreveu, interrogou. Quem terá tido tamanha audácia de desafiar as leis ao escrever numa parede branca o que lhe iria na alma, numa frase que, em duas palavras, diz tanto? Nunca saberemos! Porque se a cidade é de todos, as paredes têm um dono e um dia desaparecerá a mensagem que ficará escondida debaixo de uma tinta mais forte que ela, sem sonharmos se algum dia o mensageiro fez chegar a mensagem ao receptor. Há sempre uma coisa mais forte que a tinta, ou que a mensagem, mas nada será mais forte que o momento em que foi escrita, imagino eu. Ninguém o faz só porque sim, à deriva, pegando num pincel, numa lata de tinta e escrevendo duas palavras. Há que ter enorme sentimento para fazer perdurar na parede. Há que ter tido algures a vontade de contar ao mundo o que orgulharia alguém. Teria que ser um sonhador, como os de antigamente (hoje já não se fazem pessoas assim). Teria que ser um ser corajoso e convencido do gesto para deixar que o mundo visse isto. Teria que ser alguém sem vergonha de escrever e de mostrar a inquietação. Estão as paredes desta Lisboa cheias de escritos, dizeres, recados e desejos de amor. Estão, por trás de cada palavra destas, histórias que dariam romances que alimentam a imaginação de cada pessoa. Está sempre um coração desassossegado para cada linha desenhada e um ‘pintor’ inconsciente, que em vez de meter uma carta no correio, resolve escrever o que quer, sente ou deseja numa parede branca aos olhos de toda a gente. Imagino sempre a dor, a alegria, a convicção ou o desespero de quem o faz, e não encontro razão para que as pessoas, ao passearem pela cidade, fiquem tristes com paredes escritas de amor. Não podem ficar tristes! Nem sempre o desenho é bonito. Quase nunca se entende a frase. Raramente se percebe o contexto. Nunca se saberá quem foi o audaz pintor e quem seria a pessoa inspiradora, mas estes segredos fazem parte da história das pessoas e da cidade. De quem escreveu e de quem passa. São gestos de amor. Isso, venha quem vier, não me tiram da ideia. Foi uma feliz coincidência de Domingo que me fez pensar que, se eu um dia tivesse tamanha coragem para escrever uma parede,  escreveria uma frase destas. ‘Sem expectativas!’, com as expectativas todas dentro da frase.

 

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