… Na semana que assinalou o dia mundial da luta contra o cancro, o J8 apresentou uma serie de esclarecedoras e bonitas reportagens com o nome ‘Amor Cura’ que conta a história da Irina e da forma como o diagnóstico mudou a sua vida, a sua gente e tudo à volta. Revela ainda a polémica decisão terapêutica que Irina tomou, e que é preciso respeitar. Mas o mais importante de tudo, é que trouxe para a hora de jantar em muitas casas a possibilidade de se falar abertamente da palavra que muitos nem sequer dizem. Cancro. Sofia Ribeiro, que viveu na pele um cancro de mama foi convidada pelo ‘Dois às Dez’ para conversar de forma descontraída com duas mulheres que travam a mesma luta que ela e que vivem com o diagnostico de cancro de mama. Assim fez. Sentou-se frente a duas mulheres como ela, que tinham as mesmas duvidas, os mesmos medos, os mesmos receios e muito poucas certezas além disso. Falou de tudo sem medo de julgamentos nem com a intenção de coisa alguma que não fosse informar. Informar e tirar o estigma que existe com a palavra e com quem lida com ela. Sofia foi surpreendentemente clara e profissional nesta conversa, seguramente facilita o facto de ter em comum a dor da profunda incerteza, mas a verdade é que só a generosidade de alguém que aceita sair da sua zona de conforto para publicamente falar sobre o assunto metendo-se no papel de entrevistadora para que outras respondam, é de enaltecer. Enaltecer porque não é fácil fazer o que a Sofia fez e menos fácil é fazê-lo bem feito. Entre muitas coisas que tirámos desta conversa fica a certeza que ainda não se diz a palavra como ela é, as noticias, quando morre alguém dizem ‘vitima de doença prolongada‘, o mundo diz coisas como ‘Deus só dá o fardo a quem o aguenta’, ‘que são uma guerreiras’… Não! Para elas não é nada disso, porque ninguém escolheu carregar fardo nem ter peso em cima. Não! São pessoas que viram a vida hipotecada a viver numa linha muito fininha na esperança que tudo corra bem, para elas e para quem as rodeia. Falaram do medo, do preconceito e fizeram-no de forma tão clara, que obviamente tinha que o destacar publicamente, porque o que a Sofia aceitou fazer foi serviço público. Se me perguntarem porque digo isto, é fácil: falamos de cancro todos os dias, mas será que o fazemos com a clareza e a nitidez que Ela o faz? Não! Não acontece, porque dizemos a palavra baixinho, com medo, com receio e eu sou desses. Sou dos que não fala para não atrair, que não diz para não se escutar… e fazemo-lo por medo. Com o medo de que um dia ‘aquilo’ nos entre em casa. É um medo real, que não depende de nós, mas a verdade é que a Sofia, a Irina e as convidadas que conversaram com a Sofia foram claras, ‘o cancro apareceu-me numa altura em que estava emocionalmente afectada por alguma coisa‘. Isto tem que dizer muito da vida que fazemos e da que queremos fazer. Fica a reflexão!
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