… Os meus olhos não mentem. Queriam dizer uma coisa. Não podem porque não deixam que se digam as coisas como elas são de verdade. A boca pode fechar-se, estar calada. Os ouvidos podem fazer-se de surdos e não ouvir o que lhes chegam a toda a hora. O nariz pode isolar o cheiro que lhe entra narinas adentro por cada canto que se virar empinado. O corpo pode estar quieto, frio, um dia a despedir-se da vida como a entendemos, mas os olhos estão sempre alerta. Muito abertos, arregalados, amendoados, meio tortos, enrugados mas verdadeiros. A olhar por ti. Para ti. Os olhos não mentem. Queriam olhar profundamente e gritar devagarinho aquilo que já tantas vezes gritaram com força, aos berros. Gritar com os olhos pode ser uma maneira diferente de se fazer ouvir. Queria levar os teus olhos a ver este mundo atrapalhado onde me movimento, o meu canto isolado, o espaço novo que descobri para que não olhem para mim. Daqui dos meus olhos consigo ver tudo, menos os teus, porque deixaram de existir. Ficaram baços, vazios, olham mas não vêem. O globo ocular esvaziou-se como se fosse um balão. Como se alguém lhe tivesse espetado um alfinete e eles…. pffffff, esvaziaram-se. Perderam a memória ou ficaram com memória de peixe. Uns poucos sete segundos. Isso não é nada para uns olhos que tinham tanta história lá dentro! Sete segundo não é nada. Não dá para nada. Acredita, que mesmo quando o corpo onde os meus olhos estão hospedados estiver a despedir-se dos olhos do mundo, os meus olhos estarão cheios de esperança até se fecharem. Vão tristes com o que viram, ouviram, sentiram porque não conseguem mentir. Mas vão em paz porque viram também muitas coisas boas. Sentiram e ouviram muitas coisas boas. Por isso vão em paz. Uma paz que são se consegue quando os olhos se fecham sem querer… querendo. Vale mais assim, que ficar com eles baços e vazios.
Eu!
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