… É preciso fazer qualquer coisa (Não agora, mas sempre. Porra!)

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… Sou pessoa de ficar poucas vezes sem nada para dizer. Tenho sempre qualquer coisa. Agora não tenho. Nem sei o que escrever, o que pensar, como fazê-lo. Mas seria egoísta não vir aqui, como todos os dias o faço, e comentar sobre o que nos rodeia. E o que nos rodeia? Uma espécie de Inferno. Inferno maldito, que engoliu a terra sem percebermos muito bem a razão. Depois do muito mau, hoje é mau, amanhã será também e, quando as nossas vidas retomarem a costumeira normalidade, a vida das pessoas que vivem nas terras queimadas segue muito mais devagar que  a nossa, e dolorosamente seca. ‘Seca de dor’, como dizia ontem uma senhora. E nós, que vamos fazer? Que vamos fazer nós além dos apelos que temos feito, da doação que fizemos, da dor que sentimos por estes dias, mas que – como em todos os casos – se vai atenuando? Vamos vivendo. Sou daqueles que também acha que há muito aproveitamento da tragédia que marca o país, não tenho dúvida nenhuma disso. Já li coisas horríveis, já ouvi tantos disparates. Não é o melhor momento para discutir jornalismo. Não é sob este fogo a escaldar que se devem tecer comentários sem filtro. Deve ser discutido. Óbvio que sim, não agora!… Venho aqui só para dizer que os heróis são os Bombeiros. Homens de coragem e bravura, muitos a troco de nada, que metem a sua vida em perigo para salvar a de outros. Estes Bombeiros, os melhores do mundo, que durante o ano quase não nos lembramos deles. São eles os heróis, são eles que merecem ser agraciados o ano todo, são eles que evitam maiores tragédias… São os bombeiros, porra! Não se esqueçam disso. Façamos com que Portugal não viva a pensar que tem Bombeiros apenas no Verão. Indignemo-nos pelas péssimas condições em que muitos trabalham, manifestemo-nos para que os muitos quartéis espalhados pelo País fiquem melhor equipados, gritemos para que se comprem mais tanques de água, para que Bombeiro seja uma profissão a merecer o respeito de todos, sempre e o ano todo, não agora porque a tragédia se abateu. Que vai fazer o Governo depois disto? Que vamos fazer nós? Não mandamos na natureza, não a podemos controlar, ela zangada dá cabo de nós, mas podemos atenuar coisas se pensarmos nelas antes. Matas limpas, zonas cuidadas, um planeamento do território cauteloso, não acharmos que ‘só acontece aos outros’. Cabe ao Governo fazer muito mais, muito mais e muito melhor, e cabe a cada um de nós perceber que da mesma forma que há normas para tudo, também tem de as haver para quem tem um simples quintal, um olival, um pinhal… Não me importa um culpado agora, que se ceifaram vidas, porque isso não sossega a alma de quem perdeu tudo. Importa-me que isto não volte a acontecer, e eu gostava que todos juntos exigíssemos que o Governo olhasse com olhos de ver para isto. Para todos os dias do ano, não só agora, não só no Verão. Temos os melhores Bombeiros do mundo, não teremos nunca palavras suficientes para agradecer. São os meus heróis, são muitas vezes e desde sempre. Mas eu penso assim há muito tempo. Que mais é preciso acontecer para que todos comecem a pensar assim? Não falo por falar, basta percorrer o País para perceber como vivem muitos Bombeiros, as condições de trabalho que têm e o estado em que estão muitas das suas instalações e, mais grave, muito do seu material de trabalho. Se não forem ao terreno, não percebem. Não se decidem coisas desta atrás de uma secretária, senhores governantes. Era isto que queria dizer hoje.

 

 

Foto: Rádio Regional

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