… Já não sou jovem para ser jovem (Mas sou jovem para ser velho!)

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… Com o avançar do tempo percebe-se que à medida que se coloca mais uma vela no bolo deixamos qualquer coisa para trás, olhamos ao espelho e percebemos que temos coisas novas em nós, paramos para pensar e chegamos à conclusão que, de facto, estamos melhor, sabemos mais, temos história connosco, mas que nos falta qualquer coisa. Muitas vezes não sabemos a resposta, não encontramos a peça que falta e resta-nos esperar que o tempo faço o seu trabalho. Mas há casos onde detectamos imediatamente o que falta, porque falta. Sabemos exactamente o que queríamos muito ter agora como tínhamos aos 20, 30 ou até aos 40… que foi há ‘apenas’ quatro anos. Há quatro anos eu não tinha estas manchas na pele que me lembram que a idade deixa as suas marcas, não que me aborreçam ou me incomodem, mas fazem-me pensar, sempre que olho ao espelho, que de facto as coisas não são como eram antes. Quando era mais novo, lembro-me de dizer em voz alta que gostava de rugas, ainda gosto… mas de preferência na cara dos outros, na minha não gosto. Tenho muitas que se acentuaram bastante neste par de anos, não morro por causa disso, mas não posso dizer que gosto e não me apetecia dar uma de Simone de Oliveira e dizer que ‘são o mapa da vida desenhado na pele’. Eu sei que são, mas eu tenho memória, não precisava de as ter tão marcadas.  Os cabelos brancos dão charme? Dizem que sim. Mas não precisa ser já! Eu podia esperar mais uns anos. Todos pensamos assim, por isso andamos desenfreadamente na procura de suplementos, de melhor alimentação, de hidratação… Achamos que podemos retardar os sinais que nos vão dizendo que a nossa fase é outra. Eu sei qual é. Tenho-a espelhada todos os dias. Sinto-a na pele. Resolvido isto, acrescento alguns queixumes que resultam do esforço físico que se faz (sem vontade) para estimular os músculos e retardar que a gravidade faça das suas, onde eu acho que ainda não deve fazer. Vou lutando com ela e por enquanto, nesse campo, a batalha é vencida por mim. Com esforço, mas por enquanto o vencedor sou eu. O pior é o resto. E o que é o resto? A memória. As memórias. O que fica para trás… não gosto de perceber isso. Não gosto de perceber que há tanta coisa que já não tenho, que já não faço, que já não quero, que já não gosto. Mas que tinha, que queria fazer, que antes não vivia sem. Aos 44, entramos definitivamente noutra fase. A fase da saudade e da insatisfação, porque por um lado, já não somos jovens, por outro, ainda somos jovens para sermos velhos… A fase em que a minha filha se torna adolescente, eu deixo de ser (por enquanto) prioridade na sua vida, que os amigos fazem as suas vidas cada vez mais longe da nossa, que as decisões são tomadas cada vez em maior solidão e em que os domingos se tornam piores domingos, por critério, porque é preciso descansar para a semana, ou desespero do telefone não tocar com um convite que nos faça deixar o sofá, porque não nos apetece andar sozinhos a divagar na rua com o ar desenfreado de quem está muito feliz, porque já não é preciso provar a felicidade a ninguém. Ou se é ou não se é! Parece que neste momento não há meia felicidade. Ou está toda a gente muito feliz à nossa volta, ou muito infeliz. Aos 44, gostamos cada vez menos de mais coisas, porque à distância tudo nos parece menos do que podia ser e muito exagerado quando vivido por outras pessoas. Amanhã este texto não me fará sentido, ou fará mais sentido que nunca. Acho que os 44 podem ser uma espécie de ‘pré-adolescência’ da maior idade, onde brigamos com o mundo porque queremos ter muitas mãos para agarrar tudo até lá chegarmos. Temos 44 anos. Somos, a esta idade, aquilo que vida fez de nós? Ou somos o que quisemos ser? Esta é a verdadeira questão. Os que já por aqui passaram (pelos 44), arrisquem-se a pensar na resposta, porque aos 44 não é justo deixarmo-nos ir. É fundamental que o caminho seja definido por nós. Se for errado, teremos tempo de nos arrepender. Mau, é olhar para trás e perceber que não o fizemos. Porque triste aos 44 é não ter nada do que se arrepender. Fazer 44 anos é mais que uma capicua a que se pode, ou não, achar graça. É a realidade a dar de caras com as circunstâncias que a vida construíu para nós. Para mim, portanto!

 

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