… Acabei de encontrar esta fotografia no meio de um livro que abri. É a página de um álbum solto que guardei. Nem vos digo o nome do livro, que iriam rir durante duas horas. Na altura o livro fez sentido, todos os que tenho em casa me fazem sentido. Senão, não os trago, não os compro ou passo a outra pessoa. Esta fotografia foi tirada no Alentejo, a Leonor estaria perto de um ano. Passaram-se quase 14 anos. Assim que vi a fotografia a minha mente recuou. A vida muda muito e muito depressa e às vezes muda vezes demais. Não sei se isso é bom, de vez em quando acho que sim, outras acho que não. Nesta altura tinha planeado para mim um futuro que não estava longe do que vivia na época. Já estava a trabalhar em televisão, na rádio, no jornal, mantinha a minha vida no Alentejo, fazia muitas viagens e conseguia equilibrar as coisas. Pensava que ia ser sempre assim. Viver no Alentejo e ir a Lisboa. Disse-o muitas vezes: o ideal é isto! Não foi. Meteram-se coisas, vontades e pessoas pelo meio e o destino, que eu acredito que está traçado, trouxe-me para outra realidade e hoje acontece o inverso. Estou em Lisboa, e vou ao Aentejo. Cada vez mais me convenço que usei demasiadas vezes o ‘livre arbítrio’ que me desvia do destino traçado, porque sou teimoso, bato em teclas que estão gastas, vivo coisas que não existem. Um amigo meu disse-me no outro dia que sou nostálgico e que vivo muito agarrado a algumas coisas que devia libertar. Não sou capaz. As memórias ficam-nos muito coladas à pele. Quando olho para esta fotografia lembro-me do dia em que a tirei, do dia em que comprei estes óculos (bonitos que eram), sei que quando os fui buscar à óptica fui ao cinema à tarde, às Amoreiras. Sei que trabalhava no Sic10 Horas. Lembro-me da camisola que tinha vestida, uma t-shirt que me ficava bem nos braços, que na altura eram muito magros e eu tinha muito complexos, do vestido que a Leonor usava, que passou depois para as minhas sobrinhas… Agora, quando agarro e olho para esta fotografia, o livro onde estava guardada não me faz sentido. A fotografia faz-me viajar e deixa-me a pensar se existirão hoje coisas, situações e pessoas que terei de guardar num livro e um dia, quando der de caras com elas, deixaram de fazer sentido. Não gosto da sensação de finitude quando as coisas são boas. Por isso, acho que quando guardo algo num lugar, é na expectativa de quando voltar a encontrar eu esteja melhor que nessa altura. Mais em paz, mais tranquilo, mais feliz… Eu era feliz nesta fotografia. Tenho a certeza disso. As que guardo hoje, dentro de livros que aprecio, não sei como as vou encontrar e não sei se deixarei de apreciar os livros que leio hoje.
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