… Antes que me digam que escrevo isto porque sou amigo, devo dizer que não conheço o Rui Maria Pêgo para lá de um ‘Olá’. Não calhou. Nunca conheci mais que isto, temos amigos comuns, gente que nos toca de perto e que fala do seu ‘feitio muito particular’ e lhe elogia a ‘sensibilidade’. Há muitos anos, quando ele passou no casting para o Curto-Circuito da Radical, fiz-lhe uma pequena entrevista para a TV Mais. Depois, na mesma semana, pedi-lhe uma para o 24 horas sobre o mesmo assunto e ele negou. Disse que não queria dar entrevistas seguidas porque sabia que a pergunta sobre o facto de ser filho da Júlia Pinheiro viria à tona. Se calhar vinha, mas sempre pensei que tivesse sido uma desculpa dele para na altura não me dar a entrevista, que ocupava as centrais de sexta-feira no 24 Horas. Não sei, nem sei se falaria disso… sempre olhei para ele para lá de quem é filho. Portugal tem estes rótulos colados na testa das pessoas como se elas fossem uma coisa e mais nada. Não penso assim. Graças a Deus, e hoje falo do Rui (na onda do elogio que prometi fazer sempre que me apetecer, para lá do que as pessoas possam pensar), porque me enviaram uma fotografia para comentar sobre a maneira como foi vestido à cerimónia da ILGA, que entregava os seus prémios Arco-Íris. Eu falo desta entrega de prémios, da forma como são feitos e da importância que têm noutra altura, hoje falo do Rui. Quando vi a foto pensei ‘É mesmo isto!‘. A mim não me choca que o Rui vá de quimono rosa, como não me chocou que fosse de blazer de lantejoulas a outro lugar qualquer, como não me chocará se amanhã aparecer de laço na cabeça e continuar a pintar os olhos de preto quando entender fazê-lo. Chama a atenção? Claro que sim! Com este quimono rosa, fica claro que aquela idiota história de ‘O menino veste azul, menina veste rosa’ é lixo e pouco mais que isso. Mas, se pessoas com a visibilidade do Rui, em momentos-chave, resolverem ficar quietas e caladas, corremos o risco de ver muitas psicólogas armadas em espertas a achar que ser-se homossexual é uma doença que se cura com umas palestras, uns comprimidos e uns puxões de orelhas. É triste, mas é a realidade do pensamento de muitas pessoas. Quando um dia entendermos que somos muito mais do que as pessoas com quem nos deitamos, ou por quem nos apaixonamos, passamos a perceber – à séria – que o amor não é nem rosa nem azul. É de todas as cores. Que o azul fica bem com o rosa, mas que rosa com rosa também é bonito e azul com azul também. Azul, rosa ou outra cor qualquer. O Rui sabe o que faz quando tem esta atitude pública, porque o Rui – tal como eu – deve ter vivido na pele a insegurança de ter uma certeza dentro de si e o receio de a gritar ao mundo, com medo de que mundo achasse que azul com azul não era o indicado e, mais que isso, que o facto de amar azul poderia condicionar a sua vida, os seus direitos, a sua vontade de sonhar e, talvez, as suas escolhas. Ao Rui, eu entendo ver isto, mas eu consigo olhar o Rui para lá do quimono rosa. Consigo ver o trabalho que faz, o caminho que fez para lhe dar a credibilidade de passar uma mensagem que não fica suja até ao receptor. Porque muitas vezes o exagero suja a mensagem e o essencial perde-se. Não é o caso. Não mesmo! Quando olharem para esta fotografia que estará a semana toda a rodar em vários lugares, lembrem-se que quem veste este quimono é alguém que tem a consciência da sua responsabilidade social numa causa que chamou sua. Que todos, os que fomos educados dentro do que é a verdade absoluta das emoções que vivemos, também deveríamos ter como nossa: o amor! Seja ele de que cor for, tenha ele o género que tiver. Eu sei que muita gente vai ler isto, muitos jovens, pais e profissionais falam comigo sobre este assunto, por isso fica a reflexão: acho mesmo importante que se abram os olhos e se entenda que para lá de uma chamada de atenção, aparecer vestido de rosa neste maravilhoso quimono, é uma mensagem fundamental a ser passada e importante de ser recebida, para lá do bonito corte do modelo e de a cor estar na moda ou não. Muito importante. Não se esqueçam!
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