… Sobre a forma de amar (A minha, que a vossa pode ser outra)

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… Li no outro dia uma frase que definia o amor como um barco à vela: ‘Vai o bater do coração, levado pela força do vento. Bate, o coração, à mesma velocidade que as velas do meu barco rasgam as paredes do mar’. Bonito! Há outra que diz:  ‘Metade de mim é amor, a outra metade também’. Não sei se será exactamente assim, mas sem o amor é difícil que o barco ande ou que eu me sinta inteiro. Porque o amor é preciso e precioso. Serei talvez dos que menos receio tem de falar de amor, porque não me incomoda. O amor faz parte de mim, de nós todos. Para mim, se ele tivesse uma cor seria azul como o mar. E acho sempre que temos que olhar para ele de frente e de forma descarada, mesmo que de vez em quando o melhor seja espreitar para tentar perceber o que fazemos mal para que não nos fuja de vez em quando, ou o que temos que fazer bem para permanecer aninhado ao nosso lado. Falava ontem com uma amiga minha sobre  a maneira que eu tenho de amar. Não há um manual que me ensine e diga ‘Isto sim, isto não’. Mas há o instinto de perceber que se está certo e errado. Certo, sempre aos meus olhos, é não magoar, é não fazer ao outro o que jamais gostaria que o outro me fizesse. Errado? Errado são tantas coisas. Eu sou um pro em errar na maneira de amar, porque sou atabalhoado na forma de estar no amor. Tenho medo. Ou digo tudo e não devia dizer nem um terço, ou não faço nada e devia fazer tudo. Sou muito protector, talvez até demais… E esta coisa que os especialistas dizem de que quando se ama temos de ser ‘amores, amantes, companheiros’ e não ‘pai, mãe, amigos, protectores…’ não consigo encaixar. Ou melhor, entendo o que quer dizer e concordo, mas como não proteger a pessoa que se ama e a quem se quer bem? Como não defender dos males de fora? Não há maneira. Não há como. Eu não consigo. Eu sou muito protector, talvez porque fui educado assim… Preciso que me protejam também, gosto que o façam, mesmo que revire os olhos para dar a entender o contrário. Deposito toda a força que tenho em gestos de protecção, que muitas vezes, no meu íntimo, confundo com actos românticos e que o outro lado não vê desta forma. Lá está! O acto de amar e ser amado deveria ser disciplina escolar e não é. Não aprendemos, temos de ir errando. Mas eu mantenho a minha filosofia do amor, que se baseia no instinto de protecção quase animalesco de o querer ver bem, feliz, confortável e tranquilo. Tenho a necessidade de ver o amor sorrir. Não sentir que tem um problema, uma angústia, uma estafa. Se depender de mim, e se eu conseguir, quero tornar o caminho leve. É isto a vida a dois. Amor tem de ser uma coisa de cor suave, com o leve tormento de umas borboletas a bater na barriga e um pensar constante no sorriso da pessoa amada. O amor é perceber que se respeita o espaço de cada um, mesmo que se esteja desejoso de ver o espaço invadido. É não querer acordar ao lado de ninguém para não o fazer suportar o feitio matinal, mas procurar desesperadamente o amor no outro lado da cama que se toca de madrugada para se sentir protegido. É adormecer com a respiração do outro, mesmo que às vezes a respiração não se escute. Amar é não o deixar apanhar uma corrente de ar, é perceber que não pode estar com a cabeça ao sol, é alertar para as mudanças de temperatura, para as dietas malucas, para o caminho certo. Amar é descobrir uma rua a dois, é mostrar as ruas conhecidas vistas com outros olhos. Amar é andar de carro pela cidade em silêncio a tentar perceber se os olhos do amor vêem o mesmo que os do amado. Amar é gritar, brigar e fazer a pazes. É dizer que não se quer saber e, às escondidas, perceber se comeu tudo, se está tapado durante a noite, se tem tudo para o dia seguinte, se desligou o computador, se não está muito tempo na Internet… Amar são uma série de incoerências que se encaixam entre si no momento que a pele de um e outro fazem sentido juntas. Eu só sei amar assim. Incoerente, mas amando. Amo com toda a verdade que tenho dentro, mesmo que a minha verdade não seja a do resto do mundo.

 

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