… Onde isto já vai! Vamos lá esclarecer então (mais uma vez) a polémica instalada na imprensa comigo e com o Júlio Isidro. A coisa é simples, muito fácil de entender e não permite grandes interpretações, além daquela que vos conto rapidamente aqui. Há dias, no Passadeira Vermelha, falou-se de Júlio Isidro a propósito de qualquer coisa que já não me recordo. Conversava eu com o Nuno Azinheira sobre o assunto e ambos considerámos que Júlio é uma referência na televisão em Portugal, e eu – entre conversas – disse ‘não gosto dele‘. O Nuno ficou admirado e as minhas colegas também, perguntaram porquê e eu disse só ‘Não gosto’ e depois disse, ‘há tempos fez-me uma coisa feia!‘. Apareceram no dia a seguir e nos outros dias também, a reforçar, uma data de títulos como este de ‘Cláudio acusa Júlio Isidro de lhe ter feito uma coisa feia!’. Vamos lá esclarecer para que não exista margem para interpretações fora de contexto. Primeiro ponto, é óbvio – como disse – que o Júlio é para mim, ou para qualquer profissional de televisão, uma referência. Seria idiota achar que não. Júlio fará parte da história televisiva em Portugal para sempre. Estamos todos de acordo. Mas daí a gostar ‘profissionalmente’ do seu género é um passo gigante. E eu, não sou apreciador do género do Júlio Isidro. É um direito que me assiste e já o disse muitas vezes, até já o escrevi nas minha crónicas. Não vejo mal nenhum nisto, porque eu aposto que o Júlio não é admirador do meu trabalho. Não há nada aqui que me obrigue a gostar do trabalho do Júlio, sendo que nada o obriga a ele a gostar do meu. Estaremos empatados e entendidos neste ponto, certo? Outro ponto é a frase ‘Fez-me uma coisa feia’. Explique-se. Recuamos um bocado no tempo. Recuamos mesmo muito, seguramente uns 25 anos. Júlio tinha na altura uma produtora chamada JIP e eu, que era atento a tudo, sabia isso – não havia internet na altura nem coisa que o valha – por iniciativa minha e, depois de falar ao telefone com a sua produção, depois de saber que estavam a preparar um programa novo, enviei-lhe, por carta, uma data de propostas de rubricas para o programa em questão. Sempre fui muito de tomar a iniciativa das coisas. Dias depois recebo uma carta a dizer que tinham recebido as propostas e iriam olhar para elas na primeira oportunidade. A tal ‘oportunidade’ demorou a aparecer, eu – insistente – liguei para a produtora e foi-me marcada uma conversa com Júlio Isidro. Assim fiz: meti-me no autocarro e antes da hora marcada estava na sala de espera para falar com o senhor Júlio. Os sofás eram, se não me engano, amarelo mostarda. Esperei meia hora, uma hora, duas horas… perdi a conta ao tempo e deixei de encontrar posição no sofá. Mais tarde, uma simpática senhora veio dizer-me que o ‘Senhor Júlio continuava em reunião, e hoje já não o vai conseguir atender’. Muito bem! Achei feio. Para um miúdo que se desloca 400 km, investe dinheiro no autocarro e na sua melhor camisa, para ter aquilo que considera uma reunião de trabalho, ficar plantado na sala de espera não é uma coisa bonita. Para o Júlio, que na altura – se não me engano – se preparava para assumir (ou teria assumido) a direção de programas da TVI, haveria outras prioridades. A esta distância eu entendo, mas não gostei. A ‘coisa feia’ foi esta! Eu era um miúdo destemido. Marcava reuniões com as pessoas porque achava que tinha alguma coisa importante para lhes dizer. Fiz assim com o Zé Eduardo Moniz, que me encaminhou para o produtor Pedro Curto e que me recebeu na sede da antiga produtora MMM; fiz assim com o Emídio Rangel, que me recebeu na SIC logo no começo; fiz assim com Fialho Gouveia, que me recebeu na Álvares Cabral; fiz assim com Manolo Bello, que me recebeu na Comunicasom; fiz assim com o Nicolau Breyner, que me recebeu no Teatro Vasco Santana; fiz assim com a Maria Elisa, como já contei, e terei feito com outros que agora não tenho na memória. Mas todos me receberam, nem que fosse para dizer ‘que não era a hora certa’ ou encaminhar para outras pessoas. Fiz e continuarei a fazer sempre que achar que tenho qualquer coisa a dizer ou a fazer. A diferença é que agora tenho 44 anos e toda a gente sabe o que faço. Na altura teria uns 19 e apenas sonhos e vontades minhas que ninguém sequer sabia que existiam. Isso pode fazer a diferença, mas não tivesse sido a minha persistência junta à humildade e à capacidade de ouvir de muitos que me alimentaram a esperança, e eu não estaria aqui agora. Garanto! Foi isto que aconteceu. Como podem ver, não há problema nenhum. O Júlio não me fez mal nenhum. Só seguiu a agenda dele, que não coincidiu com a minha. É vida dos crescidos, que eu na altura não entendia.
PS: As ideias de rubricas que mandei não eram absurdas, disparatadas, nem fora de contexto. Vim a perceber isso depois, se bem que na televisão nada se inventa. Tudo se transforma! Eu na altura não tinha a noção disso 😉
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