… Não há outras cores assim. Estas são as cores que ficam mesmo que um dia deixem de existir. Não há outro respirar assim. Este respirar fica sempre, mesmo que deixe de se respirar um dia. Há um dia onde se juntam as cores ao respirar e fazemos de conta que estamos aqui. Mortos e pasmados pela cor que encontramos num final de dia no meio de uma estrada que está no meio do nada. Não há mais cores destas. Não se compram, não se vendem, não se inventam, não se fabricam com misturas. Não há, porque não há muitos lugares como este onde, numa estrada qualquer no meio do nada, olhamos em frente para ver no céu um conjunto de cores ao fim do dia que foram postas ali pelas mãos da natureza. Mas aqui a natureza é mais natureza, porque é mais respirada, mais sentida, tem cores mais bonitas e está escondida. Podia ser uma pintura, mas é apenas uma fotografia, tirada com um telemóvel numa estrada desenhada no meio do nada, que nos corta a respiração e se instala na memória de forma a ficar para sempre, mesmo que daqui a bocado a imagem deixe de existir. Porque nos vamos embora, ou porque a lua aparece, depois a noite, as estrelas, a noite outra vez e o sol volta a nascer. É isto que vemos quando resolvemos desacelerar.
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