… E fez-se história! ( É preciso que se diga isto, caraças)

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… Estava hoje às sete da manhã o verdadeiro alvoroço nos estúdios da SIC. O nervoso miudinho de uma coisa nova, que vai chegar com a noção nos olhos de todos que seria para ficar. As redacções estavam cheias de gente à espera que fossem dez da manhã para ver começar o programa mais esperado dos últimos tempos. Vi os primeiros minutos na redacção da ‘Júlia’, que parou a equipa inteira para ver a estreia da Cristina na SIC. Muito barulho, muitas questões, muitas opiniões, a normal inquietação de quem quer ver tudo e não deixar escapar um detalhe… Fiz o que tinha a fazer e vim para casa. Sozinho, em silêncio, puxei tudo para trás e vi do começo. Vi o primeiro passo e vi os outros todos. Posso um dia dizer aos meus netos (se os tiver) que assisti dentro e fora a uma revolução televisiva de que não tinha memória. Cristina Ferreira abriu as portas da sua casa a Portugal e fê-lo à sua maneira. Sorriso rasgado num rosto emoldurado por um super-penteado. Estaria nervosa? Claro que sim! Mas sentia-se em casa. Claramente em casa, e isso basta olhar bem nos olhos. Não sei se já repararam, mas ela ri com os olhos… Não deve ser fácil manter o sorriso, depois do muito que teve de gerir estes tempos. Os olhos que hoje riram, devem ter chorado muito, sem que ninguém visse, nestes últimos tempos. Mas foi com eles a rir que foi mostrando pedaços do seu canto, aquele que agora pode mostrar e que demorou anos a construir. Primeiro em sonhos, depois na cabeça, mais tarde no papel, depois a vê-lo tornar-se realidade… É um cenário soberbo, jamais visto na televisão em Portugal, menos ainda num programa de daytime. É aqui que temos de nos focar. Estamos a falar do programa das manhãs da SIC, o programa de daytime, esse espaço televisivo tantas vezes desprezado por tanta gente, incluindo por pofissionais do meio que acham um horário menor feito para gente que não sabe apreciar o que é bom. Erro grande, meus amigos. Este é o espaço mais nobre da televisão, aquele que tem o coração das pessoas frente ao ecrã a pulsar com o que se passa lá dentro. É este que lhes alegra o dia, lhes conta histórias, as informa, as distrai. É a esta hora que a televisão substitui o filho que perderam, o marido que vai trabalhar, a mulher que já não está, o irmão que sai mais cedo. É a esta hora que muitas mães adormecem os filhos nos braços ao embalo do que ali se passa, homens passam a caneca do café por água enquanto se lembram que há tempos era a mulher que o fazia. É a esta hora em que Portugal sente que pode estar dentro da televisão, porque, ao longo de três horas, Cristina estendeu as histórias como quem estende a vida de cada um de nós e se emociona com elas, se ri com elas, se informa com elas… Não me venham com tretas. Gostei de tudo. De a ver encostada à ombreira  da porta da casa de banho, gostei da porta que não abriu – porque, em nossa casa, quantas vezes a porta não abre!? Em nossa casa, quantas vezes recebemos amigos para dois dedos de conversa onde não dizemos nada e só nos rimos? Em nossa casa, quantas vezes tivemos uma amiga à nossa frente a chorar porque atravessa um luto? Na casa de cada um de vocês foi impossível ficar indiferente à emoção de Luis Filipe Vieira. O homem que, para lá de dirigente, se mostrou filho. Quantas pessoas não revisitaram a sua vida ao visitarem a sua aldeia através da visita que Cristina fez a Castro Laboreiro? Eu lembrei-me da minha, e vou lá muitas vezes. Isto para mim é televisão feita com coração, com a verdade. Li tanta coisa sobre o telefonema do Presidente da República a Cristina Ferreira durante o programa, uns gostaram muito, outros acharam um exagero. Eu, além de entender que é um enorme momento televisivo, não vi o Presidente a ligar à apresentadora. Eu vi o amigo a ligar à amiga. Quantas vezes não nos acontece em casa quando nos metemos numa aventura, recebermos o telefonema de quem nos deseja sorte?Olhamos para a profissão de quem nos liga? Não! Preferimos sentir o que nos diz e passa. Passou o que os olhos de Cristina, a mulher, passaram a todos os que estavam a ver e ouvir. Era o Presidente? Era! E ainda bem, isto é um programa de televisão. Emocionei-me muito neste programa. Com as histórias que ele tinha dentro, mas muito mais com a história que ele faz. Eu sou muito consciente do que escrevo e do que faço. Não estou a falar de um vestido, nem de uma declaração, estou a falar de um feito. Eu faço televisão há 20 anos, e há 15 neste horário, eu sei a importância que é ver valorizado um espaço com a dedicação e empenho com que este está a ser. Podem não acreditar, podem não ver ou não querer ver, mas fez-se história. Hoje fez-se história e é preciso que alguém diga isto sem ter medo das palavras, porque vivemos no Portugal com medo do exagero quando toca ao elogio. Eu digo, porque é o que sinto, porque o que vi não foi só um programa das dez à uma, como já vi tantos nascerem e morrerem, porque já estive dentro de muitos, porque já apresentei outros tantos. Digo porque sou um espectador sensível ao que se faz e porque, além de respeitar enormemente a televisão, tenho por quem a vê com estima uma consideração enorme. A televisão, meus amigos, é isto. É isto para lá das luzes, do brilho, das capas, do diz que disse, do que se ganha ou perde… A televisão é alma. Só pode ser feita e sentida de verdade se quem estiver no ecrã estiver com alma. Fez-se história, caraças! Fez-se história porque nada será como antes depois deste dia. Acreditem em mim. Eu sei o que digo! Podem gostar muito, não gostar nada. Amar ou odiar. Mas, digam o que disserem, há uma unanimidade: a partir de hoje nada será como antes na televisão em Portugal e para quem gosta de televisão, dentro e fora dela, isso é muito bom. Muito bom. O público já merecia isto e eu tenho muito orgulho por trabalhar na televisão. Porque eu sou feito desta massa. Obrigado!

 

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