… Esta fotografia remete-me a um Verão quente em 2005. Era a minha Leonor uma boneca com outra boneca debaixo do braço, quase maior que ela. O braço marcado com um sinal de nascença, que quase não nos lembramos dele, mas que na altura nos assustou muito… Foi desaparecendo com o tempo. Olhei para a fotografia e lembrei-me da ‘Inês’. A ‘Inês’ – nem faço ideia da razão – era o nome da boneca da Leonor. Era a sua melhor amiga e não a largava por coisa nenhuma. Tem graça, que hoje a ‘Inês’ anda nos braços da minha sobrinha Gabriela. Quando olho para esta fotografia sinto, inevitavelmente, umas saudades imensas de quando a Leonor me cabia nos braços, como a boneca lhe cabe nos dela neste retrato. Os filhos crescem e ainda bem. E vão na direcção que escolhem. Nós temos de estar aqui por perto a orientar, a ajudar, a apoiar, a vigiar… Não podemos condicionar. Não nos adianta isso e queremos só que eles sejam felizes. A Leonor está a crescer, já não cabe nestes vestidos rosa, já não os quer nem ver, já não gosta de chapéus, nem sapatos a fazer conjunto. Escolhe as suas roupas, os seus sapatos e, no lugar da ‘Inês’, tem agora as tecnologias que a acompanham para todo o lado, a uma velocidade maior do que me agradaria. Mantém os olhos grandes, curiosos, atentos a tudo o que a rodeia e está ainda mais firme nos passos que dá. Lembro-me de quando começo a andar. Desengonçada, mas decidida. Achávamos que daria um, dois, três passos no máximo… Mas ela insistia e, cambaleando, embriagada de vontade e atrasada pelo peso das fraldas, surpreendia-nos com mais uns quantos. E depois caía. Olhava para nós e sorria. Levava as mãos ao chão, arrastava as pernas e lá ía ela numa nova caminhada… Os passos foram ficando cada vez mais firmes, decididos e hoje, aos 14, quando falo com ela percebo que sabe muito bem o que quer. Que tem as suas dúvidas, as crises da idade, os silêncios da adolescência… Mas sinto-me muito feliz de perceber que sabe exactamente o que não quer. Isso é talvez o mais importante. Fico feliz por saber que a minha Leonor não vestiria um vestido rosa só porque eu queria que ela vestisse ou porque alguém lhe diria que ficava bonito. Tenho a certeza que, se um dia voltar a usar um vestido rosa, é porque lhe apetece. A isso chama-se personalidade. Já em 2005, nas passadas que dava, se notava que queria desenhar o caminho desde cedo e à sua maneira. Qualquer pai se orgulharia disto. Não sou o único!
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