… A propósito da polémica (Portugal quis ‘namorar’ com um agricultor)

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… Ontem vi com muito agrado o programa ‘Quem quer namorar com o Agricultor’, porque o acho mais interessante do que ‘Quem quer casar com o meu filho’. Nada tem a ver com o canal, mas sim com o facto de eu conhecer os dois formatos e ter dito sempre que o ‘Agricultor’ me fascinava e ambicionava ser seu apresentador. Não só pela sua vertente de entretenimento, como pela belíssima parte pedagógica que a ele está inerente e que só não vê quem não quer. Mostrar ao mundo que a agricultura faz parte do meio de sustento de muita gente e que essa gente não é toda igual, que nem todos os agricultores são burros e analfabetos, ou agro-betos,  que há um mundo de vida entre uma coisa e outra. Perceber que nem toda a gente que trabalha a terra vive isolado do resto do mundo e não é um pedaço de ‘barro’ sem coração… Eu sei o que digo, porque, como venho do campo, sei que há muita gente que olha de lado para quem lá vive e que lá trabalha. É importante olhar também para esse lado… Passando isso, que me interessa muito, não fiquei indiferente às muitas manifestações que apareceram hoje cedo vindas de muita gente que considera o programa machista, que as mulheres são objecto, que os agricultores tratam as mulheres como ‘gado’… Sou dos que respeita todas as opiniões e apelo muito à liberdade. Por isso mesmo é importante perceber que as candidatas do programa estão ali de livre vontade na busca de uma experiência social que – aos seus olhos- as beneficiará a elas e a eles. Que eles – os agricultores – também são avaliados, como elas são, dentro do contexto que é a linha editorial de um programa de entretenimento. Gostava muito que todos percebêssemos que a televisão tem o fim de entreter0 e que uma televisão privada, além de entreter, tem a função de criar audiência e lucro. Esse é o caminho. Partindo do princípio fundamental que somos todos livres de fazer o que nos apetece, desde que não se interfiramos na liberdade do próximo, que direito temos nós de condicionar as mulheres de participarem num programa onde procuram o amor, borboletas na barriga, a exposição, ou a legítima vontade de aparecer? Não somos ninguém para o fazer. Porque da mesma maneira que há mulheres que resolvem não o fazer, e o mundo apoia, o mundo tem a obrigação de respeitar a escolha contrária, desde que seja feita de livre vontade. Portugal não é só Lisboa, Porto ou Coimbra. As pessoas, sendo todas iguais, não são todas educadas da mesma maneira, não têm todas os mesmos objectivos e não é por não terem os nossos que são piores que nós. As concorrentes e os participantes do ‘Quem quer namorar com o Agricultor’ ou de outro programa têm o direito a estar ali, a fazer as suas escolhas e a deixarem-se apreciar. O espectador tem o direito a gostar, a ver, a avaliar, a estar, a não gostar, a usar o comando para mudar de canal. A liberdade é isto. Liberdade não é condicionar com opiniões feitas e pressões mediáticas o que todos devem fazer, sob pena de, se fizerem o contrário da maioria, se sentirem mal. Isso não é nem liberdade nem justiça. Justiça e liberdade é eu fazer o que me apetece dentro da minha margem de escolha, sem fazer mal aos outros, mesmo que o resto do mundo ache que estou errado. O que não posso fazer, o que não devem as concorrentes ou os participantes fazer, é agir de acordo com o que o mundo grita, muitas vezes num lado confortável da escolha, só porque isso lhes parece o melhor para eles. Cada um de nós tem o direito a decidir o que é melhor para nós e para a nossa vida em determinado momento. Eu tenho quatro irmãs, livres, independentes, profissionais bem sucedidas, com belíssimos valores, que não ficariam piores se participassem no programa e muito menos se assistirem todos os dias a ele. Estamos a entreter Portugal numa escolha livre. Desculpem, mas é o que eu acho. Não sou nem burro, nem machista, nem quero regredir no tempo. Digo eu que tenho irmãs, uma filha, uma mãe e 45 anos. Mesmo que não se concorde com a minha opinião, é preciso respeitá-la., assim como às livres escolhas de cada um. Certo?

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